Por uma questão de economia, eu e Ju havíamos nos programado de fazer compras no supermercado no dia seguinte. Pela manhã, como ainda não havia nada “em casa” fomos tomar café no restaurante do hotel imaginando que encontraríamos, no mínimo, bagels e cream cheese, mas tínhamos uma pontinha de esperança de encontrar um banquete típico dos hotéis brasileiros, com diversos tipos de pão, frutas, sucos, manteiga, queijos, presunto, ovos mexidos, etc... Só ao chegar ao restaurante que entendemos o porquê do Zé Luis ter recomendado diversas outras opções fora do hotel. Que café da manhã esquisito era aquele?! Arroz japonês, frutos do mar, ovos mexidos esverdeados, hambúrguer... Não tinha leite quente, somente “half & half”, café com gosto de requentado, açúcar granulado... enfim, encaramos a gororoba e partimos para o Supermercado.
Escolhemos o Wal Mart para fazer as compras do mês, e nesse primeiro dia já saímos de lá uns U$ 500,00 mais pobres com um carrinho transbordando de roupas, comidas de micro-ondas e dezenas de coisas superfulas.
Ao sair de lá fomos comer num fast food anexo ao supermercado, e nos sentamos ao lado de uma família típica havaiana. Juliana ficou encantada com a beleza de uma criança de rabo de cavalo quase até a cintura, que estava “matando” vorazmente um sushi enorme. Eu fui espontâneo e disse assim aos pais da criança:
- She is beatiful! Congratulations!
E fui surpreendido com uma frase curta e seca da mãe, enquanto o pai, enorme e mal humorado, me olhava fixamente:
- He is a boy!
Putzzzz... primeiro fiz cara de Mussum:
Depois piorei a situação quando reagi:
- Oh my God... Really? Doesn´t matter, it´s a beautiful child!
O clima continuou tenso e eu não sabia onde enfiar minha fuça. Acabamos de comer e vazamos de lá. Por essas e outras é que prefiro me manter calado na maioria das vezes em que não estou certo de algo...rs
A intenção desta foto foi a de mostrar os pais do “menino”!
Bom, viramos aquela página e nesse mesmo dia atravessamos a ilha ao encontro do local mais cobiçado do planeta pelos surfistas de todo o mundo: O North Shore de Oahu. Nosso desígnio foi apenas tomar conhecimento das praias nas quais sempre sonhei em conhecer.
O início da estrada que liga Waikiki ao North Shore lembra as freeways da California, mas conforme vai chegando mais para o lado norte da ilha, a estrada vira uma pintura.
Do alto da estrada é possível ver o mar, e o frio na barriga ocorria toda vez em que eu deslumbrava aquela vista. Eu ficava sempre muito ansioso pra ver as ondas.
Quando se chega ao North Shore há a opção de seguir pela estrada direto à Laniakea ou passar pela histórica, charmosa e surfística cidade de Haleiwa. Como não conhecia o local ainda, fomos parar em Laniakea, que é a primeira praia que se pode ver seguindo pela rodovia principal, a Kamehameha highway. Só descobri que ali era Laniakea porque parei o carro e fui até a praia perguntar ao salva-vidas sobre onde estávamos. O salva-vidas, muito atencioso, foi me dando todas as dicas sobre os picos, dizendo a quantas milhas eu encontraria cada praia famosa do North Shore.
Seguindo pela Kamehameha highway reparamos que há algumas entradas para outras praias, e mais adiante, nos deparamos com a famosa baía de Waimea.
Mais adiante há vários outros picos, até chegar ao beach park mais frequentado pelos locais e pelos Haoles também - Ehukai beach park. É ali que se estaciona para surfar a disputada, e, ao mesmo tempo, temida onda de Pipeline. As bancadas de pedra vulcânica de pipe fazem toda a diferença do restante dos demais points da praia. As ondas que quebram a metros de distância de Pipe são totalmente diferentes dela. Mas são ótimas. Constantes e potentes.
A essas alturas eu já havia feito uma leitura desses picos, e comecei a imaginar que tipo de pranchas eu precisaria adquirir. Estava sendo uma tortura ver aquelas ondas e não me jogar no mar. Então falei pra Ju que já era o suficiente, e que no dia seguinte prosseguiríamos no reconhecimento dos picos, então partimos para Haleiwa para comprar as pranchas.
Em Haleiwa, paramos na loja Surf´n Sea e fomos muito bem atendidos pelo Eric, vendedor. Eu disse a ele mais ou menos o que eu precisava e Eric foi certeiro na escolha da prancha que eu precisava para o “dia a dia”. Separei uma Webber 6´1" de epoxy, design australiano. A escolha da “gunzeira” já não foi tão fácil como a prancha do dia a dia. Subi para o mezanino da loja onde havia dezenas de pranchas maiores, enquanto Ju aproveitava para comprar algumas coisinhas para ela e para o Diogo. Decidi levar também uma 7´0" do shaper brasileiro, e carioca, Ricardo Martins. Enfim, saímos da loja satisfeitos com as aquisições, inclusive Dioguinho com seu novo skateboard. Adesivamos tudo com JAD!
A loja fica bem próxima à ponte do Rio Haleiwa, que é cartão postal do North Shore, e disse à Ju que nós não poderíamos deixar de atravessá-la a pé. Eu precisava contemplar esse momento em família. Só quem adere o surf como estilo de vida entende isso.
Voltamos para Waikiki realizados por termos conhecido parte do North Shore, principalmente a cidade de Haleiwa.
Ainda com o horário descompensado pelo fuso de 7 horas a menos, fomos dormir cedo. Mas, como já era de se esperar, Diogo acordou às 4h da manhã com a corda toda! Apesar do horário, do silêncio e do escuro, fizemos uma bagunça só no kitinete. Era um dia muito especial, pois Diogo completava 3 aninhos de idade e comemoramos o seu aniversário ali mesmo com direito a bolinho e tudo. Eu estava tão emocionado com aquele momento que não consegui conter as lágrimas e chorei descontroladamente. Juliana teve de distrair o Diogo para que ele não ficasse assustado com o meu surto de emoção. Tratei de me recompor, e a bagunça, com direito a pulos na cama, guerra de travesseiros e ensaios de rock´n roll com o "ukelele" do Diogo durou até o amanhecer.
Essa bagunça nos fez lembrar o refrão da música dos Miquinhos: “E vamos todos morar no Hawaii, tocar guitarra às três da manhã, e a vizinhança de cabelo em pé, e da maneira que a gente quiser!”.
Assim que começou a clarear, pegamos o carro e fomos direto para o North Shore, pois seria o primeiro e tão esperado dia de surf no Hawaii. Partimos para Ehukai, estacionamos o carro no beach park, e fomos para as areias de Pipeline. Nesse dia a ondulação não estava favorável para Pipe, então eu caí no pico ao lado, em frente à “Casa da Volcom”. Com toda a adrenalina correndo solta nas veias, remei com muita vontade para o pico e me familiarizei rapidamente com as ondas, pois elas são quase que apalpáveis, o drop é muito tranquilo, muito certo. Depois de cerca de 1h30 surfando sem parar, fiquei olhando para a areia e contemplando o momento... Estava pegando onda no North Shore, Ju e Diogo logo ali na beira da praia..., que” viagem”!
Esquerda em Ehukai
Diogo fez amizade com uma menina havaiana. Os dois ficaram brincando enquanto eu eu me realizava naquelas águas. O pai da havaianinha, também nativo da Ilha, cantou parabéns para o Diogo no idioma havaiano. Show de bolal!
Saindo do mar, quase voltando... e chuveirada em Ehukai beach park
Depois da caída, fomos almoçar no Foodland do North Shore, uma mercearia muito conhecida por lá, que também vende comida pronta. Essa dica também foi do nosso amigo e vizinho de kitinete, Zé Luis. Do lado de fora do Foodland tem umas mesinhas com cadeiras, então papamos ali mesmo com direito a vista de "Middle´s", uma enseada paradisíaca, onde também quebram umas ondas interessantes e Sharks cove, local onde rola um mergulhinho com snorkel.
Depois do rango, descansamos um pouco e voltamos para Ehukai, pois havíamos prometido ao Diogo que o levaríamos à pista de skate chamada "Banzai skate park", pois a pista fica praticamente na direção de Banzai Pipeline.
Não foi bom para a digestão do almoço, mas a felicidade do Diogo fez valer a aventura na pista.
Voltamos para Honolulu e fomos ao Shopping Ala Moana para que o Diogo escolhesse seus presentes na loja da Disney. Parece que o bichinho saiu de lá bem satisfeito também...
Continua...